Arquivo de Joaquim Fidalgo

Porque tenho saudades e me apetece chorar…

Posted in Dedicatórias with tags , , , on Agosto 12, 2008 by soniapessoa

Quando há sete anos, por opção, porque vim viver para Braga, deixei o Jornal Público onde trabalhava há mais de uma década, eu soube na hora que a dôr de deixar um sítio que eu amava ficaria para o resto da vida. Porque era um sítio especial, aquela redacção, porque eram pessoas especiais, as que lá viveram comigo, porque um amor assim não se esquece nunca! A minha relação com o Jornal público foi de amor, foi de ódio, de alegrias e tristezas… foi de vivências, de crescimento, mas também de muito cansaço, pelo esforço emotivo que exigia de todos nós.

Desde o dia em que avisei os responsáveis, de que iria deixar o jornal, até ao último dia de trabalho, a memória que tenho é de manifestações de carinho e de lágrimas, muitas lágrimas. Como é da praxe, foi organizado um jantar de despedida, com direito a discurso, a uns copos a mais, e a mais lágrimas, que teimavam em escorrer pela cara abaixo, quase me impedindo de disfrutar de cada rosto que fez questão de estar presente… e foram muitos, alguns que eu nem esperava mas fizeram questão de me acarinhar.

Num jantar de despedida há sempre miminhos, lembro-me que me ofereceram um relógio e, para meu espanto, foi distribuido um jornal feito só para mim. Para além do jornal impresso, recebi a chapa original onde foi feito o jornal, que entretanto emoldurei para mais tarde recordar. No jornal, o editor de cada secção escreveu um texto sobre mim, em tom de brincadeira (até o Calvin me era dedicado!…) e aquele que foi o meu primeiro Director, Joaquim Fidalgo, escreveu um texto sobre a minha passagem pelo Público. Lembro-me que ao lê-lo chorei até mais não, ainda hoje me vêm as lágrimas aos olhos quando o recordo ou o leio por acaso.

Devem estar a perguntar-se o porquê desta ladainha toda, mas ainda hoje ao fim de sete anos me dói na alma as saudades que tenho daquilo, das gentes, dos amigos… tantas que, frequentemente, mais do que o aconselhável até, sonho com eles e acordo de manhã com um aperto no coração! Porque hoje estava novamente apertado, quis partilhá-lo convosco… por isso reproduzo aqui o texto que Joaquim Fidalgo me dedicou, a quem eu estou tão grata por tudo o que me ensinou e que guardo com carinho. Aos meus colegas deixo um beijo de saudade e de esperança que nos vejamos de novo um dia, para lembrar, contar histórias, que fazem afinal parte de todos nós.

Ele Há Sempre Tantas Coisas…

Ele há sempre tantas histórias, tantos caminhos, tantas pessoas…

Ele há sempre tantos tempos…

Há um tempo de chegar e há um tempo de partir.

Mas há, quando se esteve, um tempo de ficar. Um tempo de ser sempre daqui.

Há casas de trabalho que são mais feitas à medida das pessoas, e isso é bom.

Mas raro. Parece que cada vez mais raro.

Há casas de trabalho em que são as pessoas que têm de ir fazendo, dia a dia,

pouco a pouco ou muito a muito, essa medida – a medida das pessoas.

E há gente que sabe fazer isso.

Umas vezes melhor, outras vezes pior, que nunca tudo são só rosas nem só espinhos,

aqui mais depressa e ali mais devagar, ora para cima ora para baixo,

ora em alegria ora em tristeza, ora…

E daí? É também como as pessoas, que todos nós somos.

E que fomos sendo, e continuamos a ser, também contigo.

Ficas por cá. és da casa. entraste nela e ajudaste a fazê-la casa.

De trabalho? Sim, sem dúvida.

Mas casa com gente dentro. Uma casa de pessoas.

Pela parte de mim que me toca, pela parte de comum que me cabe também,

Obrigado.

E sê feliz.

Joaquim Fidalgo