Transcrição de um comentário que deixei hoje, no Vila Forte, a propósito das declarações feitas pela igreja sobre casamento entre homossexuais…
“UPS… que bom que é o poder expressar-me, dizer o que me vai na alma, ser livre afinal, mantendo-me dentro dos limites do respeito pelo próximo… ups, que bom que é saber que vivemos num país de iluminados que cospem aqui e ali sem pensar muito bem porque o fazem, a troco de quê, e violando o espaço que é dos outros por direito… ups, que bom que podemos chamar tacho, panela, caçarola, a um mesmo objecto, e a isto se chama diversidade cultural, património, entre outras designações, mas todos o usamos com o mesmo fim… ups, que bom que a vida pula, avança, evoluímos e não nos deitamos à sombra de conceitos ultrapassados pelo evoluir de uma civilização, a mesma que há uns séculos atrás queimava vivos em fogueiras aqueles que se atrevessem a discordar desta ou daquela opinião… ups, que bom que em tempos de crise se possa falar de outros assuntos para além desta, porque a vida, embora difícil, continua, os campeonatos de futebol continuam, as transferências milionárias continuam, e milhares de crianças do terceiro mundo continua a passar fome também… ups, que bom que é vermos três telenovelas seguidas em horário nobre, em que 70% do tempo é coberto de linguados, troca de fluídos e afins entre casais heterossexuais, e ninguém se enoja por isso, nem vira a cara para o lado… ups, que bom que aquela mulher solteira não olhou às diferenças daquela criança, à deficiência que carrega, à côr, crença ou credo, e se dispôs a adoptá-la tão só porque queria uma criança para amar… ups, afinal essa mesma mulher vive maritalmente com outra mulher… ups, que sorte a desta criança que tem dois seres humanos a amá-la e a olhar por si… ups, que quando me zangam a sério, quero dizer tanta coisa, que mais parece uma sopa de letras num qualquer tacho, numa qualquer panela, numa qualquer caçarola, numa qualquer casa portuguesa concerteza. Sónia Pessoa”